Executivos esportistas revelam as atitudes campeãs para o sucesso nas corporações.
JORGE PAULO LEMANN Executivo que já jogou a Taça Davis por dois países (Brasil e Suíça) diz que das quadras ao escritório leva a premissa de sempre “querer chegar lá”. (Crédito: Divulgação)
Avaliar adversários, planejar melhor as ações, desafiar os limites, superar as derrotas e tomar decisões vencedoras são as cinco lições do mundo esportivo para o ambiente corporativo – desde sempre um ambiente igualmente competitivo. Para a professora de Administração Miriam Vale, do Ibmec SP, essa comparação com os esportes é inevitável há muito tempo, mas evoluiu na prática com os avanços no meio corporativo e a mudança de perfil da liderança. “Hoje, entre as competências de um líder que se espelha no universo esportivo estão o foco, a disciplina, a determinação e a capacidade de definir um propósito”, afirmou. E assim manter uma unidade de direção para todos. “E, se for o caso, remodelar o seu negócio.”
Dono de quatro medalhas olímpicas na natação (duas de prata e duas de bronze), Gustavo Borges – que mergulhou de cabeça no empreendedorismo – é outro que defende com conhecimento de causa os ensinamentos esportivos para uma gestão empresarial de alta performance. “Ensina a ter coragem e a seguir em frente”, afirmou. “Favorece ainda uma construção de cultura organizacional de time, bem como a atuação de uma liderança pelo exemplo e consenso.”
Formado em economia pela Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, o ex-nadador – proprietário da Academia GB e criador da Metodologia Gustavo Borges (MGB), que já capacitou mais de 400 estabelecimentos de natação no Brasil e no exterior – resumiu em três palavras as atitudes da sua carreira que guiaram os seus próprios negócios: excelência, consistência e persistência. “Quando você faz algo bem feito, com qualidade e por um bom tempo, e ainda se alia a pessoas positivas e que te levam para frente, o resultado acontece.” Com base na experiência vitoriosa de dez executivos renomados, a DINHEIRO lista as principais lições aplicadas no âmbito dos negócios e que vêm das quadras, dos campos, dos tatames, dos mares, entre outros espaço esportivos pelo planeta.
1.NUNCA DESISTIR
O italiano Pietro Labriola pode ser considerado um empresário, ou melhor, um atleta que desafia qualquer limite. Aos 53 anos, tem no currículo a prática de esportes desde os tempos de universidade, quando disputava campeonatos de futebol. Já jogou squash para manter altos os níveis de adrenalina, iniciou o snowboard depois dos 40 anos e descobriu o skate recentemente. O CEO da TIM, formado em Administração, o esporte fortalece a disciplina pessoal, o autoconhecimento e o espírito de competição, ao servir de preparação para um mercado cada vez mais acirrado. “É com esportes e exercícios que conheço minhas potencialidades e meus limites, sem contar que são escapes para o estresse diário”, afirmou à DINHEIRO o CEO. O impacto da atividade esportiva no dia a dia dos negócios fica evidente em um aprendizado levado pelo italiano da prática da corrida para o escritório: “Never give up”. Lembra que não se deve desistir quando o resultado não chega, mas, sim, redobrar os esforços para colher os frutos. Labriola também cita a máxima “It’s never too late” ao destacar que nunca é tarde para investir em algo novo.
2.MANTER FOCO E DISCIPLINA
Se comandar uma empresa já não é tarefa das mais fáceis, imagine então controlar três bandeiras. Esse é o desafio da empresária Renata Moraes Vichi, CEO do Grupo CRM, controlador das marcas Kopenhagen (incluindo a rede de cafeterias Kop Koffee), Chocolates Brasil Cacau e Lindt Brasil. A executiva de 38 anos alia a prática de artes marciais mistas com treinamento funcional, musculação e spinning. A rotina diária de atividades esportivas tem duas sessões – uma pouco antes das 5h e a outra, no fim do dia. “Gosto de superar os meus limites e sempre com muito foco e disciplina”, afirmou à DINHEIRO. “Esses dois agentes combinados proporcionam resultados tantos nos treinos quanto nos negócios.” Formada em Administração e Publicidade, Vichi diz que o desejo latente de superação é outro elo importante entre os mundos esportivo e corporativo. “Permite estruturar o meu caminho até o objetivo final.”
3.EXERCER A RESILIÊNCIA
A rotina de Guilherme Benchimol é cheia de desafios. Aos 44 anos, o carioca é cofundador da XP Investimentos. Responsável por administrar R$ 412 bilhões em ativos de cerca de 2,2 milhões de clientes, o economista adotou a corrida à rotina. Treina cinco dias por semana – chega a percorrer 80km no período – e faz musculação em dois dias. Segundo ele, o esporte serve de terapia. “Toda vez que boto meu tênis, relógio no pulso, a impressão é que entrei em outra vida. Minha cabeça desconecta de tudo”, afirmou à DINHEIRO. Ele aponta a resiliência como ponto de convergência entre esporte e mundo corporativo. “É a capacidade de sacudir a poeira, levantar a cabeça e seguir em frente. O esporte ensina isso através das derrotas e das vitórias”, disse. Ele conta sobre uma ocasião no tênis quando ainda novo (sonhou ser profissional) virou uma partida contra o hoje lutador Victor Belfort e sagrou-se campeão. Benchimol já havia feito umas cinco ou seis finais contra Belfort e sempre era derrotado. “Segui um conselho do meu pai e venci. Sempre se deve acreditar, sempre há um caminho. É uma lição muito importante.”
4.TER HUMILDADE
Seja no Brasil, na França (onde já morou a trabalho) ou nas Ilhas Maldivas (em férias), o surfe tem acompanhado Ana Theresa Borsari, country manager da Peugeot, Citroën e DS no Brasil. Com apoio do marido, a executiva pegou a primeira onda há cerca de 20 anos e, agora, vê os dois filhos, de 13 e 15 anos, dia a dia compartilharem da mesma paixão pelo esporte na praia da Baleia, em São Sebastião (SP), onde estão desde o início da pandemia. Com o mesmo respeito dirigido à natureza – e típico dos surfistas que desafiam a força do mar – a executiva prega humildade no mundo corporativo. “Por mais sucesso que tenha na carreira profissional e no mundo corporativo, ninguém é sabedor de tudo”, afirmou à DINHEIRO. “Todos precisam ter uma postura humilde e de respeito, principalmente ouvindo os colaboradores para tomar a melhor decisão.” Praticante de meditação há mais de dois anos, Borsari conta que também já tirou lições preciosas de quando jogava handebol na época do colégio São Luís e na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Essa experiência com um esporte de alto contato físico – e que lhe rendeu inclusive o rompimento dos ligamentos dos joelhos – a ajudaria na carreira e na vida a nunca ter medo de enfrentar as situações e a seguir sempre adiante. “Acho que essa forma de se colocar é essencial no mundo dos negócios.”
5.SONHAR GRANDE
Aos 80 anos, o economista Jorge Paulo Lemann também levou ensinamentos do mundo do esporte, no caso o tênis, para o corporativo. Dono da maior cervejaria do planeta, a AB Inbev, e sócio da 3G Capital, controladora das marcas Burger King e Kraft-Heinz, o empresário sempre afirmou em entrevistas que “sonhar grande e sonhar pequeno dá o mesmo trabalho”. A premissa, segundo ele, é válida na quadra e no escritório. Em depoimento no livro Como Fazer uma Empresa Dar Certo em um País Incerto (Elsevier), disse: “Estou sempre querendo chegar lá, conquistar mais alguma coisa. Essa é a graça. No dia em que eu tiver realizado o meu sonho, morri.” Homem mais rico do Brasil, com uma fortuna estimada em US$ 14,9 bilhões, pela lista da Forbes, o carioca iniciou a carreira no tênis aos 7 anos, no Country Club do Rio de Janeiro. Sagrou-se por cinco vezes campeão brasileiro e defendeu tanto o Brasil quanto a Suíça na Copa Davis, o mais renomado torneio entre nações. Teve ainda o privilégio de atuar em Roland Garros (França) e em Wimbledon (Inglaterra), dois dos quatro torneios do Grand Slam – ao lado do Aberto da Austrália e do Aberto dos Estados Unidos. Lemann chegou a liderar o ranking mundial na categoria veterano.
6.TRABALHAR EM EQUIPE
REINALDO VARELA Oito vezes vencedor do Rally dos Sertões, dono da rede Divino Fogão diz que sucesso vem de trabalho em equipe. (Crédito:Divulgação)
Com os mesmos ímpeto e habilidade com que supera dunas, rios, buracos e muitas outras adversidades nas pistas off-road pelo mundo, o empresário Reinaldo Varela, 61 anos, é contundente ao revelar o principal responsável pelo seu sucesso na carreira como piloto: o trabalho em equipe. Proprietário da rede Divino Fogão, especializada em culinária da fazenda, o paulistano tornou-se referência também fora da cozinha de uma das 180 unidades da franquia pelo Brasil. Tricampeão mundial de Rally Cross-Country (variação do rali de velocidade com o de regularidade), oito vezes vencedor do Rally dos Sertões e do Brasileiro, o administrador de empresas chegou ao topo no esporte em 2018, ao lado do navegador Gustavo Gugelmin, ao conquistar o título do tradicional Rally Dakar (categoria UTVs – intermediária entre o carro e o quadriciclo), disputado na América do Sul. Com a mesma estratégia, Varela levou o prêmio máximo do segmento em 2019 – o franqueador do ano. “Nunca se ganha sozinho, no rali ou nos negócios”, afirmou à DINHEIRO. “Nas pistas você só vence em equipe, composta por piloto, navegador, mecânicos e preparador. Todos são responsáveis pelo seu resultado. E no ambiente corporativo é a mesma coisa. Para Varela, quanto mais você dividir, mais você ganha. Porque todo mundo vai ter foco naquilo que está fazendo. “Outra coisa: só trabalha em equipe quem escuta. Quem não escuta, só manda. Tem que saber escutar, peneirar tudo o que ouve, ver as melhores ideias e colocar em prática. Isso é o que te faz ter grandes resultados em qualquer coisa.” O empresário, que chegou a ser campeão paulista de natação e praticou tênis em parte da vida, enumera outras lições do esporte que o guiam na jornada gastronômica: foco, persistência, dedicação para atingir a excelência, além de buscar os melhores equipamentos e profissionais.
7.APRENDER A SE ADAPTAR
CÍCERO BARRETO Executivo da Omint é ultramaratonista. “O esporte agrega, inclusive em momentos delicados, como o que estamos vivendo” (Crédito:Divulgação)
O executivo Cícero Barreto, 46 anos, pode ser considerado um atleta fora de série. Desde 2009, disputa provas de ultramaratona em montanhas, o trail run, no Brasil e ao redor do mundo. Percorrer distâncias superiores a 100km tornou-se rotina na vida do diretor da Omint, operadora de saúde e seguradora. Formado em análise de sistemas, com pós-graduação e MBA em Marketing, aprendeu com o esporte que nenhuma prova é igual a outra. “O clima, a preparação e o planejamento mudam de acordo com o momento e isso tem tudo a ver com o mundo corporativo”, disse o sul-matogrossense à DINHEIRO, primeiro atleta sul-americano a ganhar a Sunrise to Sunset, ultramaratona com 100km na Mongólia, na Ásia. Outra lição que diz ter tirado do universo esportivo é exercer a cidadania. “O esporte agrega, promove congraçamento, inclusive em momentos delicados, como o que estamos passando”, afirmou. Em plena pandemia, ele lançou o #desafioaquecendoasruas. Cada quilômetro percorrido foi convertido em um cobertor doado a pessoas de situação de rua. “Batemos a meta de 1 mil cobertores doados”. Outros ensinamentos adotados por ele nos negócios são a resiliência (“Para estabelecer paz no meio do caos, se encontrar e conseguir performar”), senso de planejamento (“Para saber lidar com imprevistos”) e melhor gestão de recursos (“Não apenas físicos e financeiros, mas também de tempo, para obter resultados”).
8.SER DETERMINADO
ABILIO DINIZ Um dos maiores orgulhos do empresário foi sua primeira maratona, em Nova York. Atividade física como pilar de saúde. (Crédito:Divulgação)
Abilio Diniz, 83 anos, presidente do Conselho de Administração da Península Participações e membro do Conselho de Administração do Carrefour Global e do Carrefour Brasil, intercalou sua jornada nos esportes e na vida empresarial com atitudes campeãs como determinação e disciplina, que lhe renderam sucesso nas duas áreas. Como atleta, aos 6 anos já era goleiro. Aos 13, matriculou-se nas aulas de boxe e, ainda adolescente, aprendeu judô, capoeira, além de fazer musculação. Formado em Administração de Empresas, o executivo conciliou a voracidade e o arrojo à frente do grupo Pão de Açúcar à velocidade nas pistas, fossem na água ou nos autódromos. Em 1968, 1969 e 1970, conquistou o tricampeonato brasileiro de motonáutica e, ainda naquele último ano, no controle de um carro, ganhou a tradicional Mil Milhas de Interlagos, ao lado do irmão Alcides. Já nos anos 1990, Abilio aumentou o interesse pelas provas de longa distância e, em 1994, disputou a sua primeira maratona em Nova York, um de seus maiores orgulhos. “O esporte ainda faz parte da minha rotina, mas com o objetivo de me trazer longevidade com qualidade”, disse. “Há muitos anos dedico todos os dias duas horas da minha rotina para a prática de atividade física e tenho certeza de que ela é um dos pilares mais importantes para que eu tenha saúde aos 83 anos.”
9.SUPERAR LIMITES
Os desafios de um triatleta assustam apenas ao se enumerar. Nadar 3,8km, pedalar 180km e finalizar com uma corrida de 42km. Tudo em sequência. Um desafio e tanto para um seleto grupo de esportistas, mas que faz parte da vida de Eduardo Jurcevic há 22 anos. A paixão pelo triatlo começou aos 18 anos, quando assistiu a uma prova em Santos, sua cidade natal. “Entendi na mesma hora que era isso o que eu queria como hobby e lifestyle”, afirmou à DINHEIRO o CEO da Webmotors, plataforma de negócios e soluções para o mercado automotivo. Bacharel em Direito, com MBA em Gestão Empresarial, o executivo de 45 anos tem na carreira mais de 30 provas de IronMan (categoria top do esporte) e o título do Meio IronMan 70.3 de Foz de Iguaçu, além de participações em Mundiais. A proeza exige muita disciplina e até logística. A sessão de treinamento é diária, das 4h às 7h. Além de ser uma forma de “aliviar 100% o estresse nos negócios e favorecer o mindfullness [estado mental de controle da concentração]”, o maior aprendizado que Jurcevic leva para suas decisões e estratégias é a capacidade de superar todos os limites, até mesmo aqueles criados pela mente. E, para explicar isso, ele cita superações reais como o dia em que tudo aconteceu em uma única prova em Fortaleza. “Fiz um corte profundo em um dos joelhos em uma quina saindo da água, escorreguei na prova de bicicleta e perdi uma garrafinha de água e, já na corrida, para aliviar uma bolha em um dos pés, coloquei silver tape para continuar”, afirmou. “A recompensa foi uma vaga para o Mundial do Havaí.”
10.MANTER A CONCENTRAÇÃO
FLÁVIO OSSO Praticante de hipismo rural há cinco anos, CEO da Ubook tira do esporte o hábito da concentração. (Crédito:Divulgação)
Contornar seis balizas e três tambores no menor tempo… Em cima de um cavalo. O hipismo rural, modalidade bastante difundida no interior do Brasil, exige relação harmoniosa entre o cavaleiro e o animal, destreza para percorrer o percurso pré-determinado na pista, além de garra e coragem para superar as adversidades. “Mas o principal é ter concentração”, afirmou à DINHEIRO Flávio Osso, 40 anos, CEO da Ubook, maior plataforma de conteúdo em áudio por streaming da América Latina. “Se você entrar na pista para correr ou na quadra para jogar tênis (outro esporte praticado por ele) sem concentração, não consegue resultado algum, a exemplo do que acontece nos negócios.” Esportista ao longo da vida, praticante de judô (aos 7 anos), jiu-jítsu (dos 12 aos 20), vôlei (dos 15 aos 17) e tênis (costumava jogar duas a três vezes por semana antes da pandemia), o empresário descobriu o hipismo rural há cerca de cinco anos e, quase todos os fins de semana, segue com a mulher e a filha para o rancho da família, nas cercanias no Rio de Janeiro, para aliviar o estresse da vida empresarial. “É uma válvula de escape. Não é só o que você traz do esporte para dentro da empresa. Você tira da empresa e joga na pista, na quadra, quebra a raquete. Isso não é uma via de mão única. É de mão dupla.”
ANA THERESA BORSARI do handebol ao surfe, executiva da Peugeot, Citroên e DS no Brasil diz que mundo corporativo pede lições de humildade; RENATA MORAES VICHI CEO do Grupo CRM alia a prática de artes marcias a exercícios de musculação e spinning. Tira deles para os negócios foco e discplina; GUILHERME BENCHIMOL Para o cofundador da XP, o esporte serve de terapia e também ensina a “sacudir a poeira, levantar a cabeça e seguir em frente”; EDUARDO JURCEVIC Para o CEO da Webmotor, que é triatleta, o maior aprendizado tirado das provas para o mundo corporativo é a superação de limites. (Crédito:Divulgação)
Fonte: https://www.istoedinheiro.com.br/10-licoes-do-esporte-para-os-negocios/
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